Tradição e resistência: casa de farinha em Pão de Açúcar preserva cultura há mais de 60 anos
No Sertão alagoano, às margens do Rio São Francisco, uma pequena construção de barro e madeira resiste ao tempo, à modernidade e ao esquecimento. É a cas...

No Sertão alagoano, às margens do Rio São Francisco, uma pequena construção de barro e madeira resiste ao tempo, à modernidade e ao esquecimento. É a casa de farinha da comunidade rural no Povoado Imporeiras em Pão de Açúcar, que há mais de seis décadas mantém viva uma das mais tradicionais práticas culturais do Nordeste: a produção artesanal de farinha de mandioca. As casas de farinha também têm papel de preservação de saberes tradicionais, de identidade regional; envolvem trabalho coletivo, familiar. José Zeferino e dona Gilda mantém viva a tradição da casa de farinha e cuidam com muito amor da terra e também da cultura. "É um processo muito bom. Essa casa existe há 60 anos, foi feita pelo meu pai. E aqui nós mantemos a tradição. Tem o processo de colheita, aí depois a mandioca vem para a casa de farinha, onde as mulheres descascam, ralam, um processo para a chegar na farinha", disse José Zeferino. Do roçado à mesa: o passo a passo da produção artesanal na casa de farinha de Pão de Açúcar A colheita e o transporte da mandioca Tudo começa no roçado, onde a mandioca é plantada no sítio da família. “A mandioca tem que estar no ponto. Nem muito nova, nem passada. Isso é o que garante uma farinha sequinha e boa de comer”, explica José Zeferino. Descascar com paciência Já na casa de farinha, as mulheres da comunidade iniciam a primeira etapa do processamento: descascar a mandioca. Com facões e muita habilidade, retiram toda a casca grossa da raiz, deixando apenas a polpa branca. “Uma mandioca mal descascada amarga a farinha. Aqui a gente se diverte, sai muita fofoca aqui", disse dona Gilda. Ralar e prensar Depois de descascada, a mandioca é ralada. Antes feita em roletes manuais de madeira, hoje o processo ganhou agilidade com o caititu - um motor elétrico adaptado, que é a única parte modernizada do sistema. Em seguida, a massa ralada é colocada em sacos de tecido e vai para a prensa, onde é espremida para extrair o líquido, conhecido como manipueira. Peneirar e torrar no forno a lenha A massa prensada é então peneirada, para que fique solta e sem grumos. Depois, vai direto para o forno de barro e pedra, alimentado com lenha de mata seca. A torra é o momento mais delicado da produção: exige paciência, habilidade e sensibilidade. “Se passar do ponto, queima. Se tirar cedo, fica crua. A farinha tem que chiar no tacho e soltar do fundo”, diz José. ´Casa de Farinha em Pão de Açúcar, Alagoas Reprodução Assista aos vídeos mais recentes do g1 AL Veja mais notícias da região no g1 AL